segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Caderno de Artista

O Caderno de Artista é um veiculo de reflexão que o artista utiliza para utilização de seu processo criativo, critico. Esse meio ajuda a organizar as idéias, fazer estudos de imagens, desconstrui-las se necessário e perceber o amadurecimento da linguagem. Considerando que essas experiências para cada um se da de maneira única, a elaboração desse processo torna-se uma referência para o próprio artista. A observação dessa prática revela uma história imagética. Sempre gostei de escrever, pintar e desenhar e os cadernos sempre fizeram parte de minha vida. Quando percebi havia uma coleção deles... as vezes pego um e fico explorando através do olhar, percebendo sinais das linhas, cores e gestos que criaram uma marca. Aquarelas, colagens e linhas indefinidas fazem parte desses registros.
Amo meus cadernos e acho que são eles quem mais me revelam pois na intimidade de minha criação, sem pretenções de criar uma obra são eles que a conservam em sua forma original e pura. Os erros (?), as tentativas, os acertos (?), está tudo contido lá. Sem reparos, sem mascaras, apenas existindo de maneira original na explosão de cada momento.

Desconstrução da Imagem


Na 2a feira de carnaval acordei no meio da noite e liguei a TV para ver se havia algo de interessante. Passando pela TV Cultura havia uma imagem no centro do Roda Viva que me chamou a atenção; por um momento fiquei tentando buscar referências para aquilo que meus olham miravam. Não havia. Era Laerte Coutinho, um cartunista muito inteligente, vestido de mulher, maquiado, cabelos longos e unhas pintadas de vermelho. Em seus olhos havia uma verdade absoluta e em sua fala algo que ultrapassava conceitos e pre-conceitos. As outras personalidades que o entrevistavam eram todas pessoas também muito interessantes e, ao final do programa ja não importava se era um homem, uma mulher e sim, um ser humano genial!
Desde esse dia essa imagem ficou em minha mente. As imagens costumam falar mais do que as palavras quando prestamos atenção a elas. Sempre trabalhei com a desconstrução de imagens; desenhos realistas nunca foram meu foco, meu interesse pois as coisas são as coisas. A arte para mim tem outra função. A de ultrapassar a superficialidade e causar estranhamento, questionamento, nos fazer sair do lugar de conforto para um lugar de reflexão. Os rótulos surgem quando fixamos apenas na aparência das coisas mas, se ousarmos buscar uma essência então algo pode se revelar. A percepção da sensação que a imagem nos causa é o que conta. Então, citando George Braque: "A ciência tranquiliza e a arte perturba".
Obrigada Laerte por causar essa profunda perturbação.